segunda-feira, 27 de junho de 2016

O QUE É TERAPIA EMDR?

A técnica também auxilia o tratamento de depressão, síndrome do pânico, transtorno de ansiedade, distúrbios do sono e a superar os lutos

Créditos à Revista Viva Saúde - por Samantha Cerquetani


Em 1984, Rosana Leite sofreu um acidente de carro e rompeu os tendões da mão direita, e não dirigiu à noite por mais de 15 anos. Já Silvia Guz lesionou o tendão do cotovelo na mesma circunstância, quase perdeu os movimentos do braço e sentia dores constantes. Apesar dos tratamentos convencionais, as lembranças e as dores de ambas não desapareciam. Mas, com a técnica terapêutica Eye Movement Desensitization and Reprocessing (Dessensibilização e Reprocessamento por meio dos Movimentos Oculares - EMDR), elas conseguiram superar seus traumas num tempo mínimo.
Criada na década de 1980 pela psicóloga americana Francine Shapiro, a prática foi desenvolvida para pessoas com transtorno de estresse pós-traumático. Hoje ela também auxilia o tratamento de doenças como depressão, síndrome do pânico, transtorno de ansiedade etc. De acordo com a psicóloga e representante do EMDR no Brasil, Esly Regina Souza de Carvalho, a terapia permite o reprocessamento neurológico de lembranças difíceis e dolorosas. E isso é possível por meio da integração do conteúdo neuronal em diferentes hemisférios cerebrais. "Com o EMDR criamos uma situação onde o próprio cérebro encontra um caminho de autorregulação. Por isso, é muito mais rápido que as terapias tradicionais", explica a especialista. Casos complexos que envolvam medo, dor ou insegurança podem logo desaparecer.
Diferentemente das terapias tradicionais, onde a palavra é necessária para o relato dos fatos traumáticos, a técnica permite que os pacientes reprocessem em silêncio os acontecimentos que lhes causam vergonha ou humilhação. Mas atenção: procure um especialista devidamente habilitado para não agravar o problema. Segundo a terapeuta Sílvia Malamud, do Instituto Sedes Sapientiae, para aplicar o EMDR, o profissional precisa ter conhecimento, prática e responsabilidade. "Durante o tratamento, inúmeras lembranças e situações inesperadas podem surgir, e somente um profissional capacitado terá condições de lidar com determinadas demandas", diz. Crianças podem se beneficiar da técnica, cujas únicas contraindicações são os quadros psicóticos agudos (esquizofrenia), e mulheres grávidas. Para Sílvia, "o EMDR funciona como uma terapia cerebral, pois o indivíduo acaba refazendo conexões cerebrais, trabalhando novas sinapses"

As informações são processadas pelo cérebro enquanto dormimos. Quem passa por uma situação traumática prejudica esse processo e permite que surjam pensamentos disfuncionais. O EMDR reorganiza os componentes causadores das memórias negativas e permite a cura dos traumas.


CINCO RAZÕES PARA CONHECER O EMDR

1. A terapia estimula o autoconhecimento, mudança do estilo de vida, além de auxiliar na superação de traumas.
2. Promove a liberação de padrões repetitivos (violência, raiva, timidez excessiva e medo).
3. É indicado para pânicos em geral, ansiedades e fobias.
4. Distúrbios do sono em geral apresentam melhora, pois a técnica trata as lembranças ruins que impedem o sono reparador.
5. Os lutos (morte, divórcio, mudança de vida) são vividos de uma forma mais saudável.




COMO FUNCIONA AS SESSÕES:
Elas podem ser mensais ou semanais (duração de 50 minutos até 2 horas). Após o relato do paciente, o terapeuta avalia o caso e o grau da perturbação (de 0 a 10). Essa escala permitirá a análise da evolução do tratamento, até o desaparecimento dos sintomas. Segue-se a estimulação bilateral, método que promove o "diálogo" entre as lembranças traumáticas, os hemisférios cerebrais e a "metabolização" (reprocessamento) do trauma, por meio de exercícios oculares. Paulatinamente, haverá o distanciamento da perturbação, pois o EMDR reproduz o movimento rápido ocular (REM), que ocorre durante o sono. Ao dormirmos, reprocessamos naturalmente as experiências diárias. A técnica recria esse sistema e estimula o paciente a se recordar dos fatos difíceis enquanto move os olhos. O cérebro se encarrega de reprocessá-los espontaneamente. A alta terapêutica dependerá de como cada paciente reagirá ao tratamento.